... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano IV Número 47 - Novembro 2012

Conto - José Geraldo de Barros Martins

Ilustração do autor

Livro, Misterioso Livro...

Naquela tiritantemente gélida manhã de julho, Jacinto Pirilo acordou sobressaltado: havia sonhado com um ser vestido elegantemente em tons de verde, que empunhava um livro com uma capa de cor alaranjada com losangos purpúreos. A certa altura o personagem onírico abria o referido livro e de dentro tirava um livro menor, azul com listras vermelhas, e proferia a seguinte frase – “Este livro que está dentro do outro contém tudo que aconteceu, acontece e acontecerá, todas as coisas do universo estão dentro dele, e você jamais imagina que possui ambos ”

Duas coisas intrigavam o nosso protagonista, a primeira era a configuração cromática da capa dos volumes : onde é que ele tinha visto tais cores??? Laranja com polígonos arlequinescos roxos... anil com escarlate listrado… tinha certeza que já vira aquelas estampas anteriormente. Onde… quando… e porquê eram questões que ficavam exigindo respostas que escorriam pelo esquecimento… Outra coisa que intrigava profundamente o nosso amigo era a estória de um livro dentro de um livro: Edgar Allan Poe falava sobre sonhos dentro de sonhos, agora livros dentro de livros… que estória era aquela???

Achando que a questão das cores das capas seria metafórica, Jacinto Pirilo passou a vasculhar sua enorme biblioteca, começou com H.G. Wells… passou a Eça de Queirós… daí a E.E. Cummings… indo para Júlio Cortázar, Emanuel Swedenborg, José Agripino de Paula, G.K. Chesterton, Antoin Artaud, Walt Whitman, Oswald de Andrade, Herman Melville, Cesário Verde, James Joyce, Gustave Flaubert, Guimarães Rosa, Rudyard Kipling, Velimir Khlénnikov, William Blake, William Burroughs, William Faulkner, etc … Mas nada, não conseguia achar sentido em nada.

Leu outros autores, e mais outros e outros e outros… Esgotada a biblioteca, ele desceu até o porão de sua antiga residência no bairro de Campos Elíseos na esperança de encontrar algum tomo esquecido… mas de repente se deparou com um caixote alaranjado com losangos purpúreos e recordou que era o local onde costumava guardar seus brinquedos na infância. Abrindo a caixa encontrou somente um pião de cor azulada com tarjas vermelhas… Sem titubear Jacinto rodou o brinquedo e em seu movimento centrífugo vislumbrou todas as épocas, todos os objetos, sentimentos, paisagens, configurações estrelares, verdades cósmicas e até todos os gols de todas as copas do mundo, enfim tudo , tal qual a visão moribunda do Brás Cubas montado em um rinoceronte ou a do personagem borgiano contemplando o Aleph… Sim, sim, ele vira tudo, tudo, tudo… Até que o pião parou de girar...

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